Ele vestia terno e gravata, ainda por cima levava em uma das mãos uma pasta rígida de couro. Era um café na Oscar Freire. Ela vestia bermuda de academia, ou biker shorts (em um termo mais moda), uma camiseta com os dizeres “reclamo, mas faço” e uma jaqueta perfecto oversized que cobria quase todo o comprimento do shorts, nos pés Dr. Martens de cano curto com meias displicentemente enroladas. Era um bar com cadeiras na rua no Santa Cecília.
Eu não falei com nenhum dos dois, mas os descrevendo eu e você imaginamos coisas sobre quem eles são, de onde vieram e o que estavam fazendo no momento que flagrei seus looks mentalmente. Por que…
O estilo avisa quem está chegando
Se você usa camiseta com dizeres que fazem sorrir, ou acessórios de smiles e cogumelos você está avisando as pessoas que se trata de uma pessoa com senso de humor. Se você foge de cortes tradicionais, escolhendo não marcar a linha da cintura, mas no lugar inventar uma outra cintura mais pra baixo ou se as pernas da sua calça tem costuras que criam silhuetas pouco óbvias eu não vou achar que você gosta de fazer as coisas como todo mundo.
A vestimenta e toda indumentária é uma identidade visual que você apresenta aos olhos, invariavelmente, inconscientemente julgadores da sociedade. Às vezes, muitas vezes, a identidade que você apresenta não está de acordo nem com seus objetivos de comunicação não verbal nem com sua autoimagem. Ou seja, ela serve ao nada.
Pesquisas da universidade Northwestern identificaram um fenômeno chamado enclothed cognition. é a ideia de que as roupas podem influenciar os processos psicológicos de quem as usa. Parece que usar a roupa certa torna as pessoas mais produtivas, eficazes e, claro, autoconfiantes. A roupa também pode ajudá-lo a tomar boas decisões e cometer menos erros.
Embora o hábito não faça o monge - e atenção aqui, o provérbio refere-se à vestimenta de monges, chamada de hábito - ele ajuda o monge a lembrar quem ele é e quais são os seus objetivos. E talvez um hábito faça pessoas comuns agirem “mais como” um monge.
Estilo pessoal é uma forma de autoconhecimento. Pessoas com o estilo de vestir que chama atenção, que gosta de contrastes, com composições visuais difíceis de ignorar não costumam ser introspectivas. São dramáticas na forma de comunicar, seja verbalmente ou não.
Aquilo que está fora, também está dentro mas nem sempre está sendo expressado de forma autêntica.